Na série de textos escritos em 1905 para O Correio da Manhã, o autor nos oferece uma narrativa que quase beira o cômico. Conta a descoberta de galerias subterrâneas embaixo do convento jesuíta que havia no alto do Morro do Castelo. À medida que as obras avançavam, homens trabalhavam nas escavações, sedentos por encontrar riquezas escondidas. Os textos ganhavam contornos de ficção, explorando a lenda urbana sobre um tesouro que teria sido enterrado pelos jesuítas sob o morro. Ao mesmo tempo, descobria uma história de amor entre uma aristocrata, seu amante jesuíta e um francês.
Lima Barreto, fingindo encontrar um manuscrito do século XVIII que explicava os mistérios das galerias, inseriu no fato jornalístico uma ficção que começou a ser publicada em forma de folhetim. A destruição do morro converteu-se num símbolo ininterrupto que se renova a cada transformação urbana; apaga-se o passado, remodela- se o futuro.
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu em 13 de maio de 1881 no Rio de Janeiro e faleceu em 01 de novembro de 1922, também no Rio de Janeiro. Descendente de escravos, sentiu na pele a exclusão social devido à sua origem, inclusive nos meios acadêmicos. Além do alcoolismo, enfrentou diversos problemas de saúde em sua vida e foi internado em hospício por mais de uma vez. Jornalista e escritor brasileiro da fase pré-modernista da literatura, publicou romances, sátiras, contos, crônicas e uma vasta obra em periódicos anarquistas do início do século XX. Sua obra está impregnada de fatos históricos e de uma perspectiva da sociedade carioca, dos ambientes e os costumes do Rio de Janeiro e faz uma crítica à mentalidade burguesa da época, escolhendo para tratar desses temas a sátira, cheia de ironia, humor e sarcasmo. Lima Barreto foi um escritor do seu tempo e de sua terra. Anotou, registrou, fixou e criticou asperamente os acontecimentos da República. Tornou-se uma espécie de “cronista” da antiga capital federal.